O potencial clínico das células-tronco do sangue do cordão umbilical

Blood cells in the vein
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Desde 1988, as células-tronco do sangue do cordão umbilical vêm sendo usadas para tratamento de doenças. De lá para cá, mais de 30 mil transplantes utilizando o material foram feitos em todo o mundo. O site do departamento de saúde dos Estados Unidos, Clinical Trials, registra 84 tipos de doenças tratadas, incluindo alguns cânceres (como a leucemia), doenças autoimunes (lúpus) e distúrbios metabólicos. Segundo dados do CIBMTR – sigla em inglês para o Centro Internacional de Pesquisa em Transplante de Sangue e Medula Óssea -, a probabilidade de alguém precisar usar as células-tronco de seu próprio sangue de cordão umbilical ou da medula óssea, até os 70 anos, é de 1 em 400.

As células-tronco encontradas no sangue de cordão umbilical são biologicamente mais jovens e flexíveis em comparação com células-tronco adultas provenientes de outras fontes, como a medula óssea. Quando criopreservadas, elas têm diversas vantagens, como menor risco de rejeição quando utilizadas em transplantes; capacidade de serem usadas no próprio paciente para situações que atualmente carecem de opções de tratamento médico – também conhecido como transplante autólogo; e o fato de estarem imediatamente disponíveis, podendo minimizar a progressão da doença no início do tratamento.

Ao mesmo tempo em que já estão sendo usadas para salvar vidas, essas células são estudadas como potenciais fontes para tratamento de doenças que ainda hoje não têm cura. Atualmente, há 517 estudos com células-tronco de cordão umbilical registrados pelo Clinical Trials em todo o mundo. Entre as possibilidades de uso estão doenças como: paralisia cerebral, autismo, traumatismo crânio-encefálico e acidente vascular cerebral. Embora os pesquisadores ainda não possam precisar o que esses estudos produzirão, pesquisas em laboratório abarcam uma grande variedade de áreas terapêuticas.

Não é exagero afirmar que o sangue de cordão umbilical tem alto valor medicinal, pois é uma das fontes mais ricas de células-tronco no corpo humano, que só podem ser colhidas no momento do nascimento do bebê. Por isso, milhares de casais ao redor do mundo vêm decidindo pela doação desse material biológico a bancos públicos ou pelo armazenamento em bancos privados para um possível tratamento de saúde no âmbito familiar.

Estudos em andamento

A doença arterial obstrutiva periférica, que é o endurecimento e estreitamento das artérias que fornecem sangue para os braços e as pernas, pode resultar em diminuição do fluxo sanguíneo para os membros, causando dor, feridas que não cicatrizam adequadamente e uma notável mudança na cor da pele. Estudos em animais usando células-tronco do sangue de cordão umbilical apontam para resultados promissores ao registrar a ação das células-tronco na criação de novos vasos sanguíneos e restauração do fluxo de sangue. Nos animais, os membros que foram injetados com essas células experimentaram um aumento no número e na densidade dos vasos sanguíneos em comparação aos que não foram injetados. O artigo com essas informações foi publicado no European Journal of Vascular Surgery, em 2011.

Com relação a doenças hepáticas, segundo publicação do International Journal of Oncology, em 2011, os primeiros estudos laboratoriais que avaliam os efeitos das células-tronco mesenquimais do sangue de cordão umbilical no tratamento de cirrose hepática mostraram melhoras significativas após a infusão de células. A cirrose hepática é caracterizada por formação de fibrose no fígado (as células do órgão morrem e são substituídas por tecido fibroso, semelhante a cicatrizes), retenção de líquidos e risco de infecção. Resultados da infusão de células-tronco mostraram aumento na geração de glicose e insulina, o que melhora a função hepática.

De acordo com uma pesquisa de laboratório realizada no Hospital da Universidade de Munique em 2008 e publicada em The Annals of Thoracic Surgery em 2010, o sangue do cordão umbilical pode ajudar a reparar válvulas cardíacas defeituosas em recém-nascidos. No estudo, as células-tronco foram semeadas em oito suportes na válvula cardíaca construída de um material biodegradável. As válvulas de bioengenharia agiram de forma semelhante a válvulas cardíacas naturais quando foram testadas para o fluxo normal de sangue e pressão. Ao longo do tempo, os suportes foram dissolvidos, deixando para trás integralmente formadas válvulas feitas a partir das células estaminais.

Estudos iniciais estão investigando o efeito das células-tronco do sangue de cordão umbilical na cicatrização de feridas em ratos diabéticos, mal que pode ser causado por má circulação, danos nos nervos ou complicações com o sistema imunológico. Os resultados desses estudos em animais, publicados em 2010, no Annals of Plastic Surgery, mostram que um processo de cura se acelerou significativamente nos ratinhos que foram injetados com células-tronco do sangue de cordão, especialmente aqueles injetados diretamente na ferida. Pesquisadores também descobriram que, com o ferimento cicatrizado, o número de novos vasos sanguíneos formados aumentou nos ratinhos que receberam o sangue do cordão umbilical.

Embora os usos terapêuticos de células-tronco do sangue de cordão umbilical já sejam uma realidade para diversas doenças, para outras, as possibilidades são ainda remotas. A partir da evolução das pesquisas no âmbito da medicina regenerativa, porém, torna-se cada vez mais possível que essas células tenham grandes utilidades em terapias no futuro.

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